Entrevista A BOLA «Durmo muitas vezes com a camisola do Sporting vestida», conta Maxi Araújo

NACIONAL22.05.202507:25

Ala esquerdo uruguaio de 29 anos abre a sua casa e o coração a A BOLA numa entrevista em que nada fica por dizer: do título ao objetivo da dobradinha e do tricampeonato. De Amorim a Rui Borges passando por João Pereira. E o amor à primeira vista pelo leão

Do bairro Marconi em Montevideu até Alvalade para ser campeão. Maxi Araújo, ala esquerdo do Sporting, abriu as portas de sua casa a A BOLA e também o coração, numa entrevista entre o título nacional já conquistado e a final da Taça que joga no domingo.

— Antes de mais... já repôs as horas de sono? Conseguiu dormir depois de toda aquela festa? 

— Sim, sim... Agora já está um pouco melhor. A verdade é que me diverti muito. E merecíamos muito viver aqueles momentos de festa. Desfrutámos aquilo que tínhamos de desfrutar.

— Mas foi tudo aquilo que esperava ou superou as expectativas? 

— Superou... foi lindo. Muito mais do que esperava. Queria muito viver aquilo. Muitos jogadores já me tinham dito como era a festa do Marquês e queria vivê-la. Foi incrível. Porque nunca tinha vivido uma festa destas, foi o meu primeiro campeonato aqui e na minha carreira futebolística, foi incrível!

— Veio do Uruguai onde também se vive o futebol com muita paixão... 

— Sim, verdade. Existe muita paixão pelo futebol no Uruguai, mas aqui também. 

— O que o marcou mais nesses momentos? 

— Para mim, pessoalmente, o apito final do árbitro. A partir desse momento foi tudo mágico. Mas foi esse apito final e a chegada ao Marquês. A entrada dos jogadores. 

— Um momento único para aquela criança que nasceu e cresceu no bairro Marconi, em Montevideu. Que memórias de infância guarda?

— Sim no Marconi... começou aos 4 anos, quando comecei a brincar com a bola e por ali fui fazendo todo o meu percurso até chegar ao futebol de 11. Marconi ensinou-me muitas coisas. Tenho um irmão pequeno, que está quase a sair de lá, e só lhe digo para aproveitar muito porque aqueles momentos não voltam.

— Era um bairro problemático? O futebol foi um escape para tudo? 

—  Sim, como em todos os bairros. Era um bairro lindo. Eu amo o bairro, mas era um bairro difícil. Em todos os momentos passavam-se coisas muito más. Mas sempre soube o que tinha na cabeça e nunca perdi o foco. Sabia que queria ser jogador de futebol para tirar a minha família da situação em que se encontrava. Para seguir os meus sonhos. Foi tudo o que sempre quis e estou a conseguir, felizmente.  

Maxi Araújo, 25 anos, recebeu A BOLA junto à piscina da sua casa

— Foi aí que ganhou a alcunha de 'El Papo'? 

— Tem um significado um pouco estranho. Prefiro não contar. 

— Tem um irmão, César Araújo, que joga na MLS e tem apenas menos um ano. Quem era melhor? 

— Ele sempre, até o dia de hoje é o melhor. Para mim sempre vai ser o melhor. É uma inspiração, a admiração que tenho por ele. Porque tem lutado muito também pelo seu sonho. Hoje também é jogador profissional e sempre desejo o melhor para ele, ajudo-o e aconselho-o.  

— Podia jogar aqui em Portugal? 

— Sim, sim. Espero que algum dia possamos tê-lo nesta Liga que é muito linda, muito competitiva. E acho que seria capaz de se portar muito bem, porque ele gosta de jogar. Ele também tem muita garra, muita determinação, acho que se adaptaria.

A nova camisola

— Lemos algumas histórias de que na seleção já dormiu com a camisola do Uruguai. Já dormiu com a do Sporting? 

— Sim, sim, muitas vezes! Muito mais no início. Mas ainda agora, no dia em que conseguimos alcançar o grande objetivo, também dormi com a camisola. E isso também aconteceu na seleção é verdade. Porque a seleção era um sonho de criança. Mas até ao dia de hoje é algo que continuo a fazer, sim. Porque me vêm milhões de coisas à cabeça. Poder estar hoje ali, na seleção, a poder aprender e desfrutar dos companheiros que sempre admirei é algo único. 

— Está com a nova camisola do Sporting vestida. Gosta deste estilo mais clássico? 

— Muito, muito, muito! Na verdade, está incrível e, bem, não quero esperar muito tempo para a poder usar. 

— Era capaz de dormir com ela hoje? 

— Sim, claro (risos). Se alguém me deixar ficar com ela aqui em casa vou dormir com ela. É muito bonita. 

— Tem uma família grande? Além do irmão e de si  mais alguém está ligado ao futebol? 

— Não, só eu e o meu irmão. No total, somos seis irmãos. Quatro homens e duas mulheres. Mas só nós estamos ligados ao futebol.  

— Já falou em várias ocasiões no Uruguai sobre Maria González, que foi a pessoa que terá levado o Maxi para Wanderers. Quem era esta pessoa?  

—Ajudou-me muito, tanto a mim, quanto à minha família. Sempre esteve para nós. Foi uma pessoa que sempre esteve presente. Estava ligada ao Montevideu Wandereres, mas era mais a que se encarregava de todas as coisas extras do futebol. E ajudava tanto os jogadores quanto as famílias. Tinha um carinho muito especial por todos nós e por isso é que a iremos lembrar sempre.  

Maxi teve uma carreira um pouco diferente, foi para o México muito cedo, esteve lá seis anos, foi muito tempo. Queria ter vindo mais cedo para a Europa? 

— Os tempos de Deus são perfeitos. Sabia que iria chegar em algum momento. Quando cheguei ao México, o primeiro ano quase não joguei, custou-me muito. Era muito novo e senti que era melhor voltar ao Uruguai. Mas foi aí que Deus me deu outra oportunidade para poder começar do zero. E comecei a jogar, a trabalhar muito mais, a focar-me no que tinha de fazer. E graças a Deus comecei a jogar, a ter rodagem e a fazer grandes jogos.

«Paulinho ama o Sporting»

— E quando é que surge o sonho de vir para a Europa?  

— Esse sonho tenho desde criança. Desde criança, sempre sonhei jogar nas grandes ligas, jogar contra os melhores. E depois, quando cheguei ao Toluca e comecei a ter também bons jogos e bons campeonatos, senti que seria ali que estaria mais perto de poder alcançar esse objetivo, sabendo que também tinha 24 anos. Mas sempre a dar o máximo e a trabalhar para um dia aqui chegar.  

— E como é que surge a oportunidade do Sporting no passado verão? Como é que recebeu a notícia?  

— Isso foi algo muito lindo, porque quando a notícia começou a sair, muita gente começou a enviar-me mensagens. Soube pelos meus empresários que o interesse do Sporting era real. Fiquei muito feliz. E depois começaram a fazer as coisas como queria que acontecessem. Foi já nessa altura que fui tentando tirar informações ao Paulinho, que já estava no Toluca. 

— Foi o Maxi que foi falar com o Paulinho ou o Paulinho é que foi ter com o Maxi? Na altura se calhar até instruído pelo Sporting... 

— Agora não me recordo muito bem... mas o Paulinho também é muito calado [risos]. Acho que foi algo natural, quando as coisas se tornaram mais fluídas, começámos a falar de todas essas coisas. A explicar muitas coisas do clube, da cidade... 

— O que disse exatamente? 

— Primeiro mais coisas logísticas. Que tanto podia viver aqui na Aroeira, como no centro, que era mais ou menos a mesma distância para a Academia. O trânsito matinal. Muitas coisas  práticas para o dia a dia.

— E sobre o clube? As referências foram as melhores? 

— O Paulinho ama o Sporting! Na verdade, tudo o que me falou do Sporting foram maravilhas. Tudo o que ele viveu aqui. E ele também me falou muito do Marquês logo na altura. Nestes dias não falei com ele, mas vou enviar-lhe uma mensagem. O que acontece é que também estamos num momento de decisões e não queremos muitas distrações.

— Ficou surpreendido com a afirmação que ele está a ter no Toluca? 

— Se estivermos a falar nos números posso dizer que sim. Mas Paulinho é incrível e quando chegou ao México ficou logo visível nos primeiros treinos que era diferente, não errava passes, a sua maturidade, sabia que ia fazer golos e ganhar títulos. Não me surpreendeu que iria fazer muitos golos. 

«Amor à primeira vista» 

— Nessa altura já se falava do Sporting para o Maxi, mas houve notícias também de outros clubes do estrangeiro e até em Portugal. Falou-se de FC Porto, Benfica... Soube do interesse de alguns desses clubes? 

— Bem, a mim diretamente, da parte do meu agente, nunca foi falado. Não sei se era verdade ou não, mas na verdade tinha decidido pelo Sporting quando me comunicaram do interesse. E só queria vir aqui. E hoje estou muito feliz.  

— E do Barcelona?  

— Sim, falou-se muito mas nunca me disseram nada. Tenho uma grande relação com eles e falamos muito do que está na mesa, o real. E quando me falaram do Sporting foi mais ou menos o que me aconteceu com o Toluca. Quando me falaram do Toluca, eu não queria mais ouvir outras ofertas, porque sabia que era o lugar onde seria feliz. E aconteceu o mesmo com o Sporting.

— Foi um amor à primeira vista? 

— Sim... foi mesmo. Juro. 

— Contas feitas, ir para o Sporting foi uma das melhores decisões que tomou? 

— Sim, sem dúvida. Foi sempre algo com que sonhei, jogar aqui na Europa, e é como digo, quando me comunicaram do interesse do Sporting, era o único clube que queria, deixei isso nas mãos de Deus e ele quis que viesse aqui para ser feliz. E sou muito feliz.

OSZAR »