Canal ligado ao humorista Antonio Tabet vai transmitir em exclusivo para o Brasil o dérbi da final da Taça de Portugal. Segundo o próprio, «as defesas são muito boas e equivalentes, o Sporting de Gyokeres tem muita força no ataque mas o meio-campo do Benfica parece mais versátil»
- Soa estranho para o público português ler que um dos fundadores do aclamado coletivo de humor Porta dos Fundos vai transmitir o Benfica-Sporting, um jogo de futebol. Qual a explicação?
— É que eu, apesar de ser mais conhecido como ator e autor, sou formado em publicidade e trabalhei por muitos anos na área de marketing e também trabalhei com vários canais do Grupo Globo antes de ser um dos fundadores da Porta dos Fundos…
— O Porta dos Fundos separou as águas, então?
— Depois de o Porta dos Fundos prosperar como negócio, surgiram oportunidades noutros segmentos, como o canal de entretenimento desportivo Desimpedidos, durante alguns anos o programa desse segmento mais popular do planeta e, durante muitos mais anos ainda seguramente, o programa mais popular desse segmento do hemisfério sul do planeta. Depois criei o canal de notícias MyNews, um conteúdo para enfrentar a polarização política que se verificava no Brasil, e agora em Portugal também, com pessoas esclarecidas que conversassem, que debatessem, que concordassem em discordar com civilidade e fidalguia, e o canal tornou-se um case study do Google. E depois o GOAT, um canal que trouxe a liga da Arábia Saudita, já com Cristiano Ronaldo, com Benzema, com Neymar e etc, para o Brasil. Devo ser caso único de criação de quatro canais diferentes com aquela plaquinha do YouTube por terem mais de um milhão de inscritos. Só que de alguns desses projetos eu fui saindo, quando os vi já a voarem alto, porque eu quero estar sempre fazendo mais coisas, daí esta minha iniciativa com o NSports, através da Ola, holding da qual faço parte. Não é só um bom negócio, é algo que me dá prazer: detetar oportunidades e ir em frente.
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— E agora o futebol português, apesar de não ser uma das cinco principais ligas europeias, é uma dessas oportunidades? É uma aposta forte da NSports?
— Eu acho que a oportunidade de transmitir o futebol português faz todo o sentido e é sensacional. Eu tenho 50 anos e ao longo da vida fui notando que a cultura brasileira sempre teve muita recetividade em Portugal e o inverso nunca sucedeu. O Porta dos Fundos faz muito sucesso em Portugal, assim como comediantes geniais como Jô Soares ou Chico Anysio fizeram. O Gato Fedorento, projeto de humor de excelência, refinadíssimo, não reverberou tanto no Brasil, nem o também genial Ricardo Araújo Pereira, que tal como Jô e Chico, sempre construiu pontes cheias de sátira, irreverência e bom gosto entre os dois países no humor. E o mesmo acontece com o futebol. Os clubes brasileiros são mais falados do que os portugueses aqui, embora, claro, quem seja fã de futebol conheça muito em Benfica, Sporting ou FC Porto. Mas, embora o futebol português não tenha a projeção da Premier League ou La Liga, a Liga Portugal tem uma influência cada vez maior no Brasil, não apenas porque clubes portugueses vêm cá contratar jogadores de vez em quando, mas porque agora são os clubes brasileiros, sobretudo depois de Jorge Jesus, que vão contratar treinadores e até alguns jogadores portugueses a Portugal.
«Desde Jorge Jesus que o futebol português tem maior influência no Brasil»
— Isso aproxima os dois países e aumenta o interesse de parte a parte no futebol de cada lado do oceano?
— Exato. Um exemplo: no ano passado alguns clubes brasileiros, Cruzeiro, Atlético Mineiro e outros, cogitaram contratar o Carlos Carvalhal, então os torcedores atleticanos, cruzeirenses e outros, logicamente, queriam ver como as equipas dele, que estava na Liga Portugal, jogavam. Além de que, tal como o Brasil sempre foi ali a partir dos 90 do século passado uma espécie de celeiro da Europa em jogadores, Portugal agora virou, de uma forma geral, a primeira janela de jogadores que depois vão explodir nos maiores clubes dos grandes centros, isso vai desde, por exemplo, o Cristiano Ronaldo, até, por exemplo, ao Di María, que entretanto voltou, ou ao Gyokeres agora…
Antonio Tabet tem criado vários canais para transmissões de competições de futebol (Foto: D. R.)
— Por falar em Gyokeres: na final do Jamor, o Sporting é favorito em relação ao Benfica por causa dos golos dele?
— Como dizia o Jardel, clássico é clássico e vice-versa. Os clássicos são tão imprevisíveis que eu e o meu filho de 16 anos, naqueles fantasy games, os jogos em que temos de escolher os jogadores que achamos que vão brilhar na jornada seguinte, quando há um clássico, mesmo que seja, para dar um exemplo, um Palmeiras, que está em alta, muito forte e muito regular, com o Santos, que está em baixa, muito mal e chegado da Série B, sempre escolhemos os jogadores do clube que está pior. No caso, apostaria nos do Santos, entende? Neste caso, vejo no Benfica e no Sporting duas equipas com defesas muito boas e consistentes, vejo o Sporting com ótimos valores no ataque mas também vejo um Benfica com um meio-campo que me parece mais versátil. Enfim, num clássico mundial, como são os portugueses, porque uma vez vi Angola parar por um dérbi, não há previsão, é muito difícil prever clássicos, a boa notícia é que posso ver o jogo tranquilo, sem desespero porque não torço para nenhum.
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— E em relação ao clube para quem torce, o Flamengo, do qual foi vice-presidente da Comunicação, como o vê em 2025? É o melhor plantel do Brasil?
— Não sei se o Flamengo tem o melhor plantel do Brasil, porque o Palmeiras também se reforçou muito bem, mas duvido que passe 2025 sem conquistar títulos, como passou em 2024. Não vai ganhar tudo, obviamente, até porque o calendário no Brasil é uma insanidade. Já ganhou o Cariocão, sim, mas eu nem considero os estaduais como uma prova importante do calendário hoje em dia, deviam até ficar fora do ano letivo do futebol. Entretanto, se no final não ganha nada importante, acho que é um desastre, tendo em conta o que investiu, os valores individuais de que dispõe e o excelente treinador que tem. O Flamengo tem a oportunidade de ganhar o Brasileirão e tem a oportunidade de ganhar a Taça dos Libertadores da América.
— E o Mundial de Clubes de daqui a semanas, em que está no grupo de Chelsea, Espérance, da Tunísia, e León, do México?
— Acho que não se deve pensar em vencer o Mundial de Clubes, que é apenas uma aventura, não há nenhum prognóstico a dar os clubes sul-americanos como favoritos ao título. Se eu estivesse no lugar do dono do Flamengo, do presidente ou do José Boto, diretor de futebol, priorizaria o Brasileirão porque é mais fácil ganhar uma liga de pontos corridos, que pede regularidade, do que as provas a eliminar, com jogo fora e em casa na fase final, em que basta um acidente de percurso para tirar o clube da prova.
Quem é Antonio Tabet?
Mais conhecido do público por ser fundador, autor e ator no coletivo de humor Porta dos Fundos, Antonio Tabet, nascido há 50 anos no Rio de Janeiro, é também um investidor no mercado de transmissão desportiva, sócio, ao lado de André Barros e Marcos Motta, da holding Ola Sports, que transmite a Série B do Brasileirão através dos canais Desimpedidos e Nsports. Via parceria com a Nsports, uma plataforma com estúdio próprio e cabines de off tube com capacidade para realizar 15 transmissões, o humorista e empresário também exibe em exclusivo a taça e a supertaça de Portugal, este ano disputada entre os eternos rivais Benfica e Sporting. Formado em publicidade, foi ainda vice-presidente de Comunicação do Flamengo, de 2015 a 2018.
«Não sei quem vai rir no fim, se o RAP, se o César»
«Não sei qual dos meus amigos, Ricardo Araújo Pereira ou César Mourão, vai ficar mais feliz no fim do jogo. Como sou neutral, vou assistir sem nenhum desespero e ficarei sempre feliz ou pelo Ricardo ou pelo César, meus grandes amigos», diz Antonio Tabet, cuja relação com Portugal e, em particular, com o benfiquista Ricardo e o sportinguista César, companheiros transatlânticos no humor, se tem aprofundado. «A minha ligação com Portugal é muito estreita e bonita, desde o lançamento do Porta dos Fundos», conta. «Depois, a relação com fãs e comediantes portugueses sempre foi muito carinhosa e respeitosa, um amor recíproco que acompanhou depois o projeto MyNews, com programas filmados em Lisboa, e com a repercussão da peça Peçanha - Protocolo de Segurança, anunciada para tournée em novembro».
«Filipe Luís será um dos melhores do mundo»
Para o adepto do Flamengo e ex-vice-presidente da Comunicação, o atual treinador do clube de coração, o ex-jogador Filipe Luís, internacional brasileiro de 39 anos com passagens por gigantes como Atlético Madrid ou Chelsea na Europa, é «o primeiro treinador brasileiro moderno». «O Flamengo está passando um período curioso: o Filipe Luís, não tenho dúvidas, será um dos grandes do mundo, talvez ele seja o primeiro exemplar de treinador formado no Brasil que é arrojado, moderno, trabalhador, inteligente, intuitivo, ou seja, ele é o primeiro com uma moldura de modernidade que já vemos nos muitos treinadores portugueses, com merecido sucesso mundo afora, e também argentinos, que são, aliás, os selecionadores da maioria das seleções sul-americanas».