Padeira de Aljubarrota vence Velhos do Restelo
Há cinco anos, Nuno Mendes estreava-se como jogador profissional. O nosso comboio é o espírito que prova que foram os jogadores, e não o selecionador, a vencer a Liga das Nações. Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do meu Livro do Desassossego
Ponto prévio: hoje estou a pensar em voz alta, esta crónica não é um ponto de chegada - também não é um ponto de partida - é uma viagem por um meio caminho entre dois extremos que percorremos a grande velocidade: tão depressa somos a Padeira de Aljubarrota como os Velhos do Restelo.
Longe vão os tempos das vitórias morais, dos pequeninos feitos desportivos que nos levavam para a rua a gritar que somos grandes. Hoje somos muito mais exigentes. Quem ligasse as televisões para ver o debate após a final da Liga das Nações sem saber o resultado haveria até de pensar, em alguns momentos, que a Espanha venceu. Já nos damos ao luxo de colocar defeitos nas nossas grandes conquistas. Como colocámos no Europeu de 2016 - o futebol sem sal, vencemos apenas um jogo nos 90 minutos, com Gales, nas meias finais, a sorte nos adversários que nos calharam até à final...
Hoje, há quem continue a defender a saída de Roberto Martínez, há muitos que defendem que Ronaldo empata mais do que adianta; quem defenda que, com estes jogadores, será uma oportunidade histórica criminosamente perdida se não formos campeões do Mundo em 2026. Abençoada Seleção que vence na Alemanha o anfitrião; que bate na final talvez a melhor seleção do mundo - Espanha - que conquista um troféu e ainda assim é confrontada é colocada em frente a um espelho para que se compare entre o que é e o que deveria ser.
Somos exigentes? Somos e temos de ser. Só lamento que não o sejamos e não discutamos com tanto afinco e conhecimento de causa em todas as outras áreas da nossa vida, do nosso país.
John Kennedy, antigo presidente dos Estados Unidos, defendeu que «a altura certa para consertar o telhado é quando o sol está a brilhar.» Por isso, aceito até por útil que se discuta a Seleção. E há bons argumentos para discutir. A começar por algumas ideias e escolhas peregrinas de Martínez. Pelo que é ou não exigível em termos de qualidade de jogo. E o selecionador tem de ser o primeiro a confrontar-se a si mesmo para saber o que pode e deve mudar. Leia a biografia de John Wooden, saudoso e lendário treinador de basquetebol norte-americano: «O fracasso não é fatal, mas a falha em mudar pode ser.» E aplique a si próprio o que Ric Charlesworth - icónico treinador australiano de hóquei em campo, além de médico e político - fazia aos jogadores que treinava: «Perturbar quem está confortável e confortar quem está em dificuldades». Um Martínez confortável, para mais como vencedor da Liga das Nações, é algo que tem tudo para não resultar.
Discutamos tudo. Hoje, felizmente, no futebol já estamos mais perto da Padeira de Aljubarrota do que dos Velhos do Restelo... Passámos de um «isto vai correr mal» para «alguém vai ter ser punido por incompetência se não correr muito bem». Ganhamos todos mais com isso. Mas que seja assim em todas as áreas e, acima de tudo, que sejamos tão exigentes connosco como somos com os outros.
Cinco anos de Nuno 'comboio' Mendes
Faz hoje cinco anos que Nuno Mendes se estreou na equipa principal do Sporting. Aos 72 minutos do jogo em Alvalade com o P. Ferreira (1-0) substituiu Acuña. Não temos sido muito justos. Temos poupado nos elogios ao melhor lateral esquerdo do Mundo. Ao atual melhor jogador da Seleção. O que ele fez na Liga das Nações foi monstruoso. Que orgulho, Nuno Mendes. Muito obrigado. Ele é atualmente o espírito desta seleção. Porque, meus amigos, mais do que selecionador ou táticas ou opções, foram os jogadores que, unidos e comprometidos, ganharam a Liga das Nações. É isso que me deixa mais tranquilo.