O Mundial de Clubes ainda vai no seu início mas os primeiros dias e jogos da competição dificilmente conseguem convencer o público europeu, mesmo os adeptos dos clubes que nele participam. Deixemos a questão do calor (as altas temperaturas também se fazem sentir no Velho Continente na altura dos Europeus) e dos horários (no Mundial de 1994, nos Estados Unidos, foram batidos recordes de audiências) e centremo-nos apenas no futebol jogado: até agora só o PSG conseguiu dar um verdadeiro espetáculo na goleada ao Atlético Madrid porque é a única equipa no mundo que atingiu um estado de perfeição - e mesmo assim fê-lo a um ritmo mais baixo por causa da canícula, como se queixou o treinador, Luis Enrique. Quanto ao resto (e numa perspetiva assumidamente eurocêntrica) é difícil esperar mais: os jogadores não descansaram o suficiente e os plantéis estão, de uma maneira geral, por definir. Veja-se por exemplo os dois representantes de Portugal: no FC Porto, Martin Anselmi não vai ter uma pré-época normal para colocar em prática o que pretende (o que não augura nada de bom face ao pouco que foi demonstrado na época passada) e Bruno Lage não pode pensar em grandes voos quando olha para Carreras e sabe que ele está com a cabeça em Madrid, Di María em Rosário ou Renato Sanches no local para onde o PSG irá colocá-lo. O contraponto de Otamendi, que independentemente da situação contratual é um jogador-modelo, um exemplo que devia ser ensinado a qualquer jovem candidato a futebolista. Ajudaria, do ponto de vista da credibilidade, se não houvesse amadores a jogar contra profissionais (Bayern-Auckland City, 10-0) ou jogos como o Boca Juniors-Benfica cuja arbitragem tão desastrada que roça o exótico coloca em perspetiva as queixas dos clubes portugueses acerca dos seus juízes. É, portanto, um enorme frete em nome apenas e só do dinheiro, o que no FC Porto faz muita falta e no Benfica fará também - se chegarem aos quartos de final, as águias dobram pela primeira vez na sua história os €100 milhões de receitas em desempenho desportivo, contabilizando o percurso na Champions. Money talks, é certo, mas nenhuma prova sobrevive se não tiver inerente o valor do prestígio. É verdade que qualquer competição precisa de tempo para ganhar notoriedade (recordemos o sucesso da Liga das Nações), mas uma coisa é competir no mesmo continente e sob a mesma calendarização de trabalho, outra é querer juntar na mesma panela aspirações completamente opostas. Porque se para os sul-americanos este sempre foi considerado o ponto mais alto da sua história (só os brasileiros acham que vencer uma Intercontinental é o equivalente a ser «campeão do mundo») para os europeus um Mundial de Clubes ou uma Intercontinental (que, é bom recordá-lo, também se vai realizar em dezembro, em cuja final o PSG já está garantido) é um troféu menor. Visto daqui, e apenas numa perspetiva de adepto de futebol, o Mundial de Clubes arrisca-se a ser, com algum exagero à mistura, um Torneio do Guadiana com esteroides. Onde há muito dinheiro em jogo, onde grandes estrelas do passado tentam embelezar o espetáculo televisivo, mas sem o ritmo e atitude competitivas das grandes provas. Pode ser que melhore lá para a frente, mas à mercê de um esforço que pode ter sérios custos a médio prazo: a falta de descanso. Vídeo sugerido: