Ricardo Vasconcelos: «Temos de sair do Europeu com uma vitória»
Selecionador nacional Ricardo Vasconcelos, iniciou a preparação da Seleção feminina em Queluz. Foto Maycon Quiozini/A Bola

ENTREVISTA A BOLA Ricardo Vasconcelos: «Temos de sair do Europeu com uma vitória»

BASQUETEBOL21.05.202521:15

Parte 1 - Selecionador nacional feminino de basquetebol conta que a Seleção ainda está «espessa» nestes primeiros dias de treinos para o histórico EuroBasket 2025, mas sabe que a ansiedade vai aparecer e que é preciso transforma-la em combustível

Já com a pré-convocatória inicial de 32 jogadoras reduzida a 16, que será selada com 12 antes da viagem, a 16 de junho, para Brno (Rep. Checa), onde Portugal integrará o Grupo C na estreia num EuroBasket feminino (18-29 junho), Ricardo Vasconcelos começou a preparar a Seleção esta semana, em Queluz. Para sexta-feira está marcado o primeiro de dois jogos de preparação em Maribor (Eslovénia), e o selecionador garante que sente grande tranquilidade, e muito trabalho, no grupo que deseja que vença as campeãs da Europa, Bélgica, logo no primeiro embate do Euro, no dia 19.

— Desde segunda-feira, quando começaram os treinos da Seleção para esta fase final da preparação tendo em vista o EuroBasket 2025, como é que tem sentido a equipa? Ansiosa, expectante…?

— Penso que ainda é cedo para se sentir ansiedade. Acho que com o andar do tempo teremos mais essa percepção dessa ansiedade. Estamos numa fase ainda muito preparatória, e é um ponto difícil porque existem várias atletas que há mais de um mês não estão em competição e outras que terminaram no fim de semana passado. Há jogadoras que vêm de uma época longa, com muito desgaste, pequenas lesões que temos que controlar e estar muito atentos. Este é um momento mais de criar um ponto zero de partida do que já estar a pensar na chegada. Existem muitas coisas para melhorar e desenvolver. Ainda é um momento de receber informação.

Estamos espessos, a ver por onde vamos, quais são as opções que teremos técnico-táticas, o que é que vamos fazer para chegar lá [Brno, Rep. Checa] em condições. Mais do que a ansiedade que vai gerar - tenho a certeza que com o tempo irá aparecer -, nesta fase há mais a necessidade de entender como é que cada um se sente, quanta informação é que podemos colocar nesta primeira fase, que vai tornar as coisas mais rijas de início, mas o grupo está são, motivado, como só podia estar, e satisfeito. Sabemos que os arranques são sempre um pouco assim.

— E emocionalmente, no meio deste turbilhão que existe, como é que se sente o selecionador: satisfeito, contente, ansioso, motivado…?

— Motivado, acima de tudo. Penso, como disse, a ansiedade chegará mais tarde. Nesta altura, muito motivado, porque, obviamente, fazer parte desta história é um orgulho, para todos e para mim, que estou por dentro. Deixa-me muito satisfeito. Sou feliz a dar treino, mas quando existem estes mais, somos ainda mais felizes naquilo que fazemos. Não tenho dúvida nenhuma que, tal como as minhas jogadoras, estou também muito contente, e como todo o staff, bastante orgulhoso do momento que estamos a passar.

— Em fevereiro, quando a qualificação ficou garantida, recordo-me de o ver verdadeiramente emocionado e de ir abraçar a sua mulher. Horas antes do primeiro jogo no Europeu [contra a Bélgica], acha que vai voltar a sentir toda essa emoção da concretização de um sonho que foi crescente ao longo dos anos?

— Nesta altura já estamos tão focados que é difícil. Voltar a sentir a mesma emoção nesse momento antes do jogo começar, não. Com toda a preparação, quando chegarmos perto da competição vamos estar com aquele formigueirozinho de quem vai estar num palco de forma única, porque no feminino nunca tivemos essa oportunidade. Vamos sentir aquela sensação de privilégio. Mas, honestamente, quando a ansiedade sobe, só há duas hipóteses: ou se desfruta e se transforma em combustível; ou estressamos e ficamos petrificados. Quem anda no desporto sabe isso. Estamos habituados a desfrutar, a transformar a ansiedade em combustível. Tenho a certeza que, quando começar, tudo aquilo em que estaremos focados é na primeira vitória. Precisamos e queremos uma vitória. Vamos ao Europeu com a ideia de que temos que ganhar um jogo. Temos que sair de lá com uma vitória. Creio que vou estar mais focado nisso nessa altura do que apenas nas emoções.

Selecionador chama 16 para preparar EuroBasket feminino

13 maio 2025, 18:47

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Ricardo Vasconcelos mantém 'americanas' ainda afastadas do arranque dos trabalhos e dos jogos de preparação para a estreia de Portugal num Campeonato da Europa, que irá acontecer, em junho, na Chéquia.

— E quando terminar?

Quando terminar será, de certeza, um instante de um turbilhão de coisas. Até lá o desporto é tão militar. Ficamos tão focados num objetivo, na melhoria de um detalhe, de um pormenor, que quase não temos tempo para realmente pensar nisso. Se vai existir aquele momento de privilégio? Seguramente. Mas depois disso, o combustível começa a puxar por nós para fazermos o melhor possível.

Ao fim e ao cabo, qual é a vida de um treinador? Ajudar. O que é que posso fazer para ajudar as minhas jogadoras nos momentos que vão passar ao longo da prova? Tenho que pensar nisso agora e durante o jogo. Durante o jogo mais ainda, porque agora podemos ir pensando, verificando e alterando. Mas durante a partida só podemos, com pouco, dar muito. É nisso que me foco durante todos os jogos.

— Para si, o que significou aquele instante do apuramento?

— É muito gratificante dedicar tanto tempo a algo. Estou nas seleções de jovens femininas desde 2005, são 20 anos. Na Seleção sénior desde 2010, são 15 anos. Ao início valiamos pouco, quer quando começámos com a formação, quer com as seniores. Tínhamos pouco prestígio e respeito. Consideravam-nos pouco. Vinte anos depois percebemos que já temos seleções na Divisão A, jovens. Que mandamos jogadores para os Estados Unidos como quem vai tomar um café. Que toda a Europa nos distingue e sabe como é: tocou-nos Portugal...

Apurar para o Europeu foi uma explosão de satisfação de quem se dedica tanto a uma causa, porque não se faz em troca de um reconhecimento. Se fosse por isso já teríamos ido todos embora há muito tempo. Faz-se por paixão, por acreditar que se é capaz, por sentir que se está a melhorar um bocadinho, mesmo que os outros não vejam. Mas que esse bocadinho, quando paramos e fazemos a análise dos últimos cinco anos, afinal foi um bocadão. Foram muitos bocadinhos todos os verões, muitos bocadinhos todos os treinos. Acima de tudo, esse é o nosso reconhecimento, ou a nossa gratidão. É disso que nos alimentamos. Dos momentos em que conseguimos o que, se calhar, nunca ninguém acreditou que era possível, ou que poucos acreditaram.

— Disputar o Europeu é subir mais um degrau nesse reconhecimento?

— Acredito que sim, até porque também se sobe a fasquia da responsabilidade. Quando é que voltaremos a consegui-lo? Eu digo assim: se levo 20 anos nesta causa das seleções, estou pronto para ir e entrar alguém. Tudo o que espero é que seja mais e melhor. Senão, tanto tempo para quê? Voltarmos para trás seria a minha maior frustração. Um dia poder ver que andámos para trás. Por isso, o que espero é que continuemos para a frente e isso significa fazer mais e melhor. Espero voltar-mos a estar num Europeu.

Ricardo Vasconcelos: «A Seleção nunca serão os 12 melhores jogadores de Portugal»

21 maio 2025, 22:16

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Parte 2 - Selecionador explica porque tenta sempre ter na Seleção três níveis etários e justifica não escolher todas as melhores, como é que consegue fazer funcionar e qualificar-se para o EuroBasket uma equipa sem uma estrela, mas também admite que, por vezes, Portugal é chato a jogar e tem um basquete pouco atrativo, mas coloca como primeiro objetivo, em Brno, derrotar a campeã europeia Bélgica

Se um dia aumentarem o número de equipas [participantes] será mais fácil. Nesta fase, se quatro países [Grécia, Itália, Rep, Checa, Alemanha] organizam um EuroBasket, quatro seleções têm entrada direta, só há 12 lugares em disputa. Ser um dos 12 melhores da Europa, fora esses quatro, não é nada fácil conseguir o apuramento.

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