— Os bons resultados do Sporting foram essenciais para a chamada à Seleção Nacional? — Acredito que sim, juntamente com o meu desempenho durante a época. Estando a jogar numa equipa com bons resultados deu-me visibilidade. — E como é que se sente? — Feliz e muito orgulhoso. É o resultado do trabalho que tenho feito, não só esta época, mas ao longo dos anos e agora tenho esta oportunidade é algo muito bom. — E o voleibol nem foi a primeira modalidade. — Pois não [sorri]. Todas as crianças crescem a jogar futebol, acho eu. — Jogava bem? — Não! Saí do futebol justamente por causa disso [risos]. Não jogava lá muito bem, mas gostava de ir lá e jogar com os meus amigos. No secundário tivemos voleibol na educação física. Gostei, os meus amigos também e começámos. — Ainda em Cabo Verde? — Sim, tinha uns 14 anos. Também praticava andebol, por influência de um professor, mas gostava cada vez mais de voleibol e queria competir. — Mas lá não era fácil? — Havia algumas equipas, mas a 30 minutos da minha cidade, o que em Cabo Verde é um bocado longe. No primeiro ano era de forma amadora, depois no segundo ano fui para uma dessas equipas, o treinador gostou de mim e fiquei. Mas só ia treinar à sexta-feira, porque já não tinha aulas no sábado. Jogávamos sábado e domingo e depois voltava para casa. — Longe de imaginar-se profissional, veio para Lisboa estudar engenharia? — Sim, já estava posto de lado. Ainda pensei, porque a faculdade tinha uma equipa. Conhecia o Hélio Seixas, que chegou a jogar no Sporting, e ele disse-me que quando chegasse aqui a Lisboa para falar com ele, porque conhecia alguém no Benfica, que podia ajudar-me. Mas passou-me, foi uma grande mudança de vida, estava longe dos meus pais, num país completamente diferente... Estava cá há um mês quando me ligou e disse para lá ir e que dependia de mim. E para não chegar atrasado! [risos] e dar o meu melhor. Fui, gostaram de mim e fiquei. — Mas ainda não de forma profissional? Seguiu-se o Oeiras. — Foi uma experiência muito boa, porque foi com os meus antigos colegas da Benfica. Já tínhamos passado a idade de juniores e sub-21 e decidimos continuar a jogar, mais um bocadinho [sorri]. Para mim foi sempre assim, jogar mais um bocadinho. Fazer alguma coisa para não ficar só em casa ou sem fazer mais nada. Foi um ano bastante bom, tranquilo também e que me abriu a porta do Sporting. — Surpreendido com o convite? — Sim, fiquei. Lembro que quando recebi a chamada fiquei surpreso e feliz. E pensei: 'O que é que eu vou lá fazer?' Foi literalmente o que me passou pela cabeça. Depois aceitei, como é óbvio [risos]. — A família continua em Cabo Verde? — Agora, os meus pais estão a viver na Bélgica, mas continuam longe. Pensei vou aceitar, experimentar e ver como é estar numa equipa profissional, como é treinar e conviver com jogadores que jogam ao mais alto nível há vários anos. — Foi campeão e quando olha para a frente, o que quer? Foi sempre tudo devagarinho e agora? — Agora é continuar a melhorar o máximo que puder, continuar a estar sempre disponível. E dar sempre o máximo para conseguir alcançar cada vez mais. Na altura, queria jogar, queria competir. E agora, comecei a querer ganhar, não só competir. Quero ganhar. E agora que já ganhamos estes títulos, quero melhorar para ganhar cada vez mais. Quando ganhamos o nosso primeiro título, no ano passado, um colega virou-se para mim e disse: 'Ganhar sabe tão bem'. E é verdade. Experimentei e agora quero mais, quero melhorar para continuar a estar nesses momentos de decisões. E tentar ganhar cada vez mais! — Depois do sucesso interno, como perspetiva as competições europeias, a Seleção? — Para o ano vamos ter a oportunidade de jogar a Champions, um nível acima e quero experimentar isso. Quero bater-me de frente com as melhores equipas, com os melhores jogadores. E meter-me à prova para ver como é que eu me saio. É esse o espírito que sempre tive. E vou ter essa oportunidade também com a Seleção, estou ansioso. E porque é uma equipa diferente, estou habituado a trabalhar sempre com as mesmas pessoas, vou sair daqui para um lugar completamente diferente, com pessoas diferentes. Vai ser uma experiência agradável pela qual estou ansioso. — Como lida com as derrotas? — Depende um bocado. — Da derrota? — Exato. De como foi o jogo. Não só pessoalmente como da equipa. Mas tento pensar que já passou e ver o que fiz errado e tentar aprender com isso e melhorar. Para não deixar que a derrota me arraste para baixo. Acho que, no geral, lido bem com a derrota. — Além do voleibol, o que gosta de fazer? — Jogar Playstation [risos]. Para descansar e, principalmente, para competir. Mas também para me distrair um bocado do voleibol e da pressão dos jogos. — Saudades de Cabo Verde? O que mais estranhou em Portugal? — É um bocado diferente. Se calhar o que sinto mais falta é do clima lá. Aqui não faz muito frio, mas faz frio. Lá não há frio. Vivia em frente à praia,andava dois minutos e estava na praia e a água era quente. Quando vim para cá pensava: 'Nunca mais chega o verão!' Mas depois chegou verão, estão 35 graus, 40 graus, e entras na água e a água é fria! Também sinto muita falta da minha família. E sempre que posso, vou lá visitá-la.