Os que não erram no sofá e a titularidade de António Silva: tudo o que disse Bruno Lage
Conferência de Imprensa de antevisão do jogo com o Nacional dominada por António Silva. Treinador avisou logo na primeira resposta que o central seria titular. E até brincou com os golos que o pai marca... no sofá
— Como está a preparar o jogo com o Nacional, tendo em conta que o Benfica está a meio de uma eliminatória europeia com o Barcelona? Vai fazer algum tipo de gestão?
— A preparar da melhor maneira. Primeiro, olhar para o Nacional e verificar que está um pouco diferente daquele que defrontámos há algum tempo. De realçar que dobrou o número de pontos que tinha na altura e que tem dinâmicas diferentes. É de enaltecer o trabalho do seu treinador. O nosso foco total tem de ser nesse jogo. Temos de olhar para a equipa e perceber qual é o melhor onze para jogar amanhã, em função das horas que tivemos para recuperar. E posso adiantar já que no melhor onze o António Silva será um dos melhores para amanhã.
— Vai conseguir fazer algum tipo de gestão tendo em conta que considerou o próximo jogo o mais importante e que estamos numa fase crucial da época?
— Todos os jogos são momentos cruciais para o Benfica. Andamos a jogar, desde setembro, praticamente de três em três dias. Todos os jogos e competições são importantes. Neste momento, dependemos de nós no campeonato. O jogo de amanhã é muito importante e por isso temos de escolher o melhor onze. Não gosto falar muito de gestão mas temos de olhar para os jogadores e perceber quem está disponível. Temos imensos fatores que nos obrigam a considerar para escolher o melhor onze. Temos quatro jogadores a fazer Ramadão [Kokçu, Akturkoglu, Amdouni e Bajrami], um onze a recuperar, precisamos de perceber como os jogadores recuperam, mais novos ou mais velhos, que tipo de toques vão tendo nos jogos, questões musculares ou traumáticas, enfim. Há um conjunto de situações que nos leva a ponderar para que a cada momento possamos escolher o melhor onze, tendo em conta a estratégia e o momento de cada jogador.
— Disse no final do jogo com o Barcelona que não precisaria de falar com António Silva. Já falou? Se não falou, o que precisa António Silva?
— Precisa de estar tranquilo e de continuar a jogar. Olhe, há um sítio onde ninguém falha: é no sofá. Eu tenho um exemplo muito claro e giro. Após cada jogo falo sempre com o meu pai, foi treinador e jogador, avançado, jogou na antiga III Divisão, e ele faz sempre três golos em cada jogo. Vou contabilizando e ele, no fim da época, marca entre 90 e 100 golos. Esse é o único sítio onde está tranquilo. De sofá ninguém falha. No jogo, toda a gente falha. Falhamos passes e receções, falhamos dribles e remates à baliza. Quem penalizamos mais? Quem está na linha defensiva ou na baliza porque aí os erros são mais visíveis e penalizam mais. Temos dar dar-lhe tranquilidade. Não falei com o António. Mas ele já sabe que amanhã estará nos onze que entrarão de início.
— Poderia esclarecer como estão Tomás Araújo, Di María e Florentino, todos com problemas físicos? Com o Nacional fará gestão semelhante à do jogo com o Santa Clara, também no meio de uma eliminatória europeia, para o qual fez sete mudanças no onze?
— Di María ainda não está disponível para o jogo [com o Nacional], o Tino [Florentino] e o Tomás [Araújo] ainda estão em dúvida. E depois é não usar a palavra gestão, mas eleger o melhor onze para o jogo de amanhã, com a melhor estratégia. É um jogo importante que queremos vencer.
— O que achou do momento em que as claques do Benfica, contra o Barcelona, usaram pirotecnia? Vai votar amanhã na AG dos estatutos? O regresso de Di María é fundamental para a equipa virar a eliminatória em Barcelona?
— Não sabemos se o Di María vai estar disponível para esse jogo. Sobre os adeptos, o que é importante é o dia de amanhã. Amanhã é dia de Benfica, das Casas do Benfica e aquilo que desejo é que dentro do estádio sejam uma voz a puxar pela equipa e a apoiá-la.
— Equipa perdeu muitas oportunidades de golo com o Barcelona e será natural que tenha o sentimento de que pode virar a eliminatória. Não sente que amanhã os jogadores possam estar a pensar mais à frente?
— É uma pergunta muito interessante. O registo de ações ofensivas não foi apenas com o Barcelona. A equipa teve esse registo com Boavista, SC Braga e Barcelona, criou muitas oportunidades de golos. Se juntarmos os dois jogos com o Barcelona criámos, realmente, muitas oportunidades. Já tivemos o mesmo sentimento quando fizemos o primeiro jogo com o Mónaco, que poderíamos ter feito mais golos e que as eliminatórias poderiam estar fechadas. Mas na Liga dos Campeões isso não acontece. Depois, em casa, fizemos resultado que nos permitiu seguir em frente. A nossa ambição é seguir em frente, mas já tivemos Mónaco, Santa Clara, Mónaco, Boavista e a equipa não perdeu o foco. Acredito e sinto que a equipa estará focada no mais importante, ou seja, no jogo com o Nacional.
— Foi noticiado, ontem, que em maio de 2023 jantou com Frederico Varandas, por causa de possível saída de Ruben Amorim.
— Mentira. Antecipo-lhe sempre as respostas, peço desculpa.
— Pergunto-lhe na mesma. Nessa altura ficou com a ideia de que poderia substituir Ruben Amorim no Sporting? Foi uma ideia que lhe agradou?
— Não sei quem lançou a notícia, mas é mentira. Não sei se conscientemente ou inconscientemente ou com que interesse que essa notícia sai. É 100 por cento mentira. Nunca jantei com o presidente do Sporting. Sinto é um enorme orgulho em ser treinador do Benfica. E o que quero é olhar para a parede em que passo todos os dias e mudar até final da época o número de taças conquistadas, de campeonatos conquistados e levar o Benfica o mais longe possível na Champions.
— Teme que o rendimento dos jogadores, principalmente Kokçu e Akturkoglu, seja afetado por estarem a respeitar o Ramadão? O que é feito para que tenham o máximo rendimento?
— Não estamos preocupados com o rendimento deles. Tivemos essa preocupação, através de um elemento da equipa técnica, o Alexandre Silva, de tentar perceber. A única alteração que fizemos foi uma ligeira alteração ao horário de chegada para que os jogadores não estejam nas instalações tanto tempo na manhã. E, por isso, chegam numa hora mais próxima do treino.
— Voltando ao assunto de António Silva. Não falou com o jogador, normalizou o erro que ele cometeu. Porque fez questão de dizer que vai ser titular amanhã? É uma mensagem para o exterior?
— Já fiz isso várias vezes. Já disse que o Samu [Samuel Soares] seria titular, que o António [Silva] seria titular. É valorizar os nossos jogadores. Desvaloriza-se muito os jogadores, olhamos sempre para o detalhe do erro e não para o que se faz de bom. Enquanto treinadores e agentes do futebol temos de olhar para as duas medidas e perceber que temos um plantel, jogadores, jovens à nossa frente que têm de crescer, evoluir e responder a cada momento. Vou dar-lhe um exemplo: o António [Silva] é um jovem que já provou e continua a provar que é um grande jogador, do outro lado estava também um jovem jogador que aos 20 minutos dos oitavos de final da UEFA Champions League comete uma falta e é expulso. Temos de olhar para o jogador, para o homem, e valorizar muito aquilo que temos. E enquanto treinador acredito sempre muito nos meus jogadores. A minha postura é sempre tirar o melhor de cada um a cada momento.